Neste filme Pierre Barnerias entrevista ARIANE BHILERAN, psicóloga clínica com formação em filosofia moral e política e literatura clássica, e doutorada em psicopatologia. Especialista em patologias do poder, estudou as representações psicóticas do tempo, os desvios provocados pelo poder como as perversões e a paranoia, o contágio do delírio paranoico e as derivas totalitárias.
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ARIANE B. começa por notar que a paz tem sido sempre uma pausa na história da humanidade e que esta sempre fabricou complots contra si mesma: aqueles que detêm os privilégios são perseguidos pelos que não os têm e criam complots para se defenderem.
Como sublinha, neste momento, todas as tentativas para pensar e reflectir são criminalizadas, de modo a evitar que os crimes sejam pensados! Há uma constelação vocabular utilizada para denegrir os que pensam, com palavras como complotista, negacionista, conspiracionista, mas na verdade o complotista pode ser definido como aquele que pensa sobre o complot. Quando é verdadeiro é um filósofo ou um resistente: Sócrates, ou Antígona são dois casos famosos… Os filósofos sempre denunciaram os complots contra o povo. Se o complotista não estiver certo, sofre de paranoia, com sentimento de perseguição, e tenta lidar com a sua culpabilidade.
Neste momento, temos tudo e o seu contrário; na realidade, aqueles que são perversos privilegiam sempre a linguagem paradoxal, porque ela deixa as pessoas paralisadas, sideradas e sem capacidade de reflexão. A dialéctica é confiscada, o debate impedido e o acto de pensar denunciado. Suprime-se tudo o que humaniza, para angustiar as pessoas. Os fins têm justificado os meios em nome duma causa maior que é proclamada: essa é a lógica da tirania.
Como explicar a docilidade e a aceitação das pessoas?
Os tiranos têm muitas estratégias e técnicas de propaganda muito desenvolvidas, porque são apaixonados pelo poder. Os homens virtuosos fogem dele.
– Pela Educação e pelos Media, mantêm o povo sem acesso à análise da retórica, das emoções e das manipulações discursivas. Não esqueçamos que a filosofia é uma medicina da alma.
– Promovem uma relação forte com o medo: por exemplo fazendo tábua rasa de tudo o que for questionamento sobre a vida.
(Perguntámos aos idosos se preferiam 10 dias com afecto ou 10 anos sem ele?)
A escolha da vida heroica deve existir e estamos a suprimi-la. A escolha é aquilo que nos humaniza: como o amor, os cuidados, o sacrifício… A lei do mais forte existe na natureza, mas não deve reger os Homens. O que nos humaniza é a filosofia, é o confronto com a doença, é aprender a morrer. Até onde aceitamos perder a nossa humanidade?)
– Utilizam o choque traumático: a ameaça de morte em grande escala; os números lançados sem contexto, a contabilidade da morte repetida em permanência.
– Manipulam com o terror e com a empatia
– Utilizam métodos sectários: cortar as pessoas das suas referências interiores e das suas relações.
– Controlam toda a informação dos media promovendo o monopensamento e realizam censura, nomeadamente de todo e qualquer debate que introduza o contraditório.
– Promovem a culpabilidade: de contaminar os outros.
– Afirmam, como todas as ditaduras, “vamos fazer algo para o vosso bem”.
– Promovem a divisão e as fracturas. Como o inimigo é invisível, qualquer pessoa pode ser meu inimigo, mesmo dentro da família e dos amigos. As pessoas são arrancadas aos seus grupos de pertença: classes sociais, família e amigos. Todos são levados a viver divisões internas.
– Criminalizam e confiscam o pensamento, porque pensar pode levar a denunciar os crimes; os psicopatas confundem pensamento e acto. As pessoas são infantilizadas.
– Oferecem uma certeza delirante.
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Quem retira benefício da paralisação da humanidade?
É angustiante pensar que os nossos governantes não querem o nosso bem. Projectamos neles as figuras parentais e nessa altura percebemos que são psicopatas.
Muitas pessoas protegem-se reagindo segundo o chamado “síndroma de Stockolm”: defendem o seu próprio carrasco porque não vêem outra saída.
No seu livro Epidemias, Hipócrates afirma que um remédio que prejudica o paciente deve ser sempre evitado. A medicina é uma arte, não é uma ciência dura; pratica-se no contexto duma relação humana, e o médico interpreta sintomas; não acede a verdades absolutas.
As lógicas estatísticas que quantificam não são úteis.
As medidas que têm sido tomadas são de submissão a uma ditadura. Os estados estão a agir contra o povo no mundo inteiro, mostrando-se corrompidos. Grupos políticos de tipo sectário infiltram-se à escala planetária, assim como os lobbies mais poderosos.
A OMS não tem qualquer integridade, trabalha dentro de grandes conflitos de interesses e promove soluções para problemas que ela própria cria. Quem a financia? Porque há-de Bill Gates intervir em matéria de saúde?
Estamos a caminhar para os mundos descritos por Orwell e Huxley e eles precisam da conservação do poder tirânico: o mestre, dizem os manuais da escravatura, deve usar métodos de intimidação odiosos e aterradores para manter a ordem; deve intimidar e utilizar o exemplo como condicionamento.
Até onde aceitamos perder a nossa humanidade por medo de ser perseguidos?
Podemos ter acesso à informação, mas não podemos aceitar tudo. Algo não bate certo. Nunca se parou um planeta inteiro por causa de gripes. Haja bom senso.
Pretendeu-se proteger as crianças e os idosos? Fez-se exactamente o contrário.
Para proteger as pessoas aceitamos maltratá-las?
Para proteger pessoas destituímo-las dos seus meios de subsistência? Criamos conflitos de lealdade (escolho o trabalho ou a família?)
A perversão tornou-se refinada. Confinar toda a gente é um ataque sem precedentes contra a ternura humana (o amor nos gestos).
Viver pressupõe riscos e cada um de nós tem o direito de decidir tomar riscos. O heroísmo significa por vezes o sacrifício.
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Na mensagem final que lhe é pedida, ARIANE BHILERAN afirma:
Tornemos a vida sagrada. Viver não é sobreviver. A vida plena é também intelectual, afectiva e espiritual.
Para nos unirmos é preciso que tenhamos combatido os nossos próprios demónios. Essa é a primeira revolução a realizar.
Temos os dirigentes que merecemos e que permitimos que existam.
As pequenas comunidades que se formam e depois não funcionam devem o seu insucesso ao facto de não estarmos em paz connosco mesmos.
Precisamos de nos reconectar com a dimensão transcendente.
Precisamos de perceber que os totalitarismos restringem sempre o campo de pensamento; que promovem o descontrolo das emoções e que aceitámos ser reduzidos a esta condição e submetermo-nos aos que tiram proveito dela.
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