Por Gary Laski
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Arte-terapia: criar e curar-se
A arte-terapia é uma terapia baseada na criação artística. Permite a cada um conhecer-se melhor, para evoluir interiormente. Não se trata de produzir uma obra de arte, de ser reconhecido enquanto artista, mas sim de fazer emergir os sentimentos profundos que temos em nós, para trabalhar sobre nós-próprios.
Já na Retórica de Aristóteles encontramos a ideia de que a arte, em particular a tragédia, tem uma função purificadora, a catharsis. Dar a ver situações terríveis e tristes permite evacuar sentimentos sombrios que nos habitam: uma experiência que já todos tivemos com a música.
Mas é no século XX que surge a ideia da arte-terapia em si. Sendo um trabalho difícil, que exige um alto nível de técnica e uma exigência de originalidade, a criação permite também ao autor libertar-se das suas obsessões, exteriorizar o que o atormenta interiormente revelando-o, e sublimá-lo através da representação. Se retirarmos deste processo a exigência técnica, resta a dimensão de desenvolvimento pessoal.
Devemos a Margaret Naumburg, professora e terapeuta nos anos 1930, as primeiras experiências nesta área. Em 1967, Martin A. Fisher cria o Toronto Art Therapy Institute e em 1977 a Association Canadienne d’Art-Thérapie. Os primeiros diplomas universitários são criados em 1982.
Uma sessão para quem, para quê?
A arte-terapia permite alimentarmo-nos ao mesmo tempo na nossa imaginação, na intuição e nas emoções. Esta prática terapêutica permite revelarmo-nos a nós-próprios, a partir do momento em que procuramos a expressão pura, e não o desempenho artístico.
A arte-terapia pode então permitir, a qualquer paciente empenhado, progredir no trabalho sobre si-próprio. É ainda um factor de resolução de problemas passageiros ou mais profundos, que requerem tempo para serem compreendidos e tratados. A arte-terapia permite exteriorizar os problemas existenciais que não se manifestam conscientemente, graças à criação. É por isso tão eficaz para crises existenciais quanto a longo prazo.
Teve também bons resultados em pacientes sofrendo de patologias mais graves, ao favorecer as emoções positivas a desfavor de outras como stress e ansiedade, stress pós-traumático, asma ligada à ansiedade em crianças, perturbações psiquiátricas como a depressão e a esquizofrenia.
Mas como em qualquer terapia, a arte-terapia exige uma forte relação de confiança entre o terapeuta e o paciente. É importante procurar o terapeuta certo, e não deve hesitar em experimentar vários.
Algumas informações úteis sobre uma sessão
Com quem
O arte-terapeuta procura fazer trabalhar o paciente tanto nos planos físico, quanto psíquico e social. O seu objectivo não é atentar à qualidade artística da obra, mas sim àquilo a que os psicólogos chamam carga simbólica. Um pouco como se interpretam os desenhos infantis, mas com a complexidade da psicologia adulta.
As sessões podem ser individuais ou de grupo. A sós com o terapeuta, não beneficiamos da imitação do grupo, e talvez sejamos menos ousados, mas mais dados a desabafos, e poderemos mais facilmente abordar temas que de outro modo, evitaríamos.
Os suportes da arte-terapia são tão diversos quanto a arte ela própria. Todos os suportes são, à partida, possíveis. O essencial é que o paciente se exprima através da criação, siga as suas intuições, deixe falar o seu inconsciente de um modo alternativo à via oral “clássica”. Os suportes mais utilizados são a escrita, a pintura, o barro, a pasta de modelar, a colagem, o desenho, a fotografia, a foto-linguagem (colagem de fotografias seleccionadas), as marionetes, o vídeo, a dança, o têxtil e o teatro.
Desenrolar de uma sessão
Acolhimento: após discurso de boas-vindas e apresentação dos participantes, os objectivos e as regras são definidas.
Apresentação das instruções: quais os constrangimentos, as técnicas utilizadas e o tempo de execução. Geralmente as instruções são flexíveis, para não “enclausurar” os pacientes, para que estes possam exprimir-se. Mas o processo artístico implica, por definição, constrangimentos, limites.
O tempo destinado à criação: o momento da troca, em que os pacientes se exprimem sobre a sua criação, e sobre o que esta criação provocou neles. Partilhar o que cada um sentiu sobre as suas criações ou as dos outros permite fazer emergir um ou vários sentidos. Não se trata de interpretar, mas de formular um sentimento, que o terapeuta esclarecerá.
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