
A matriz nazi revelou-se tão profundamente hedionda durante a segunda grande Guerra que nenhum discurso a seu favor voltou a parecer declaradamente possível a não ser em grupos de extrema-direita emergentes na última década, apesar de tudo muito minoritários à escala planetária.
A partir dos anos 50 foi necessário deslocar as palavras, os conceitos e as ideias dessa matriz para zonas subterrâneas e escondidas onde continuassem o seu labor constante e de onde ressurgissem, a seguir, com a melhor máscara, com novas palavras, métodos, propaganda e renovada abrangência. Muitos médicos e cientistas do regime nazi emigraram para os EUA (qualquer semelhança sonora entre Nazi e NASA é tudo menos coincidência) e o seu conhecimento, a sua experimentação radicalmente perversa sobre humanos, as suas armas químicas, as suas técnicas de tortura, a sua imaginação delirante criaram raízes.
A natureza do crime contra a humanidade que a matriz consubstancia, aquilo que veio a ser designado por “mal radical”, era e é duma espessura, duma densidade e duma latência tão ancoradas e esmagadoras que a imaginação da distopia claudica perante ela, no comum dos mortais ¬– não há energia vital para ela, não há oxigénio, não há reservas de lucidez.
A matriz (Matrix) precisou de uma economia, duma política, duma medicina e duma filosofia que lhe dessem expressão à escala global. Paciente e paulatinamente reuniu armas e esforços nos seguidores de Milton Friedman, no lobby farmacêutico, agroquímico e alimentar, na indústria e na pesquisa científica da guerra, nas sociedades secretas e nos clubes de países ricos, nas teorias e práticas liberais e neoliberais, tanto quanto no totalitarismo chinês, nos media, na ciência com resultados encomendados e em SilliconValley.
Os anos 60 a 90 foram tendencialmente hedonistas nas sociedades ocidentais ditas civilizadas e apesar das muitas revoluções e descolonizações e da alegria efémera da aparente liberdade, os seres humanos foram progressivamente orientados no sentido do consumo, do deslumbramento, do progresso tecnológico e da atomização crescente do conhecimento. Inebriado com a sua performance intelectual e artística, com o conforto e com a comunicação globalizada, o ocidental perdeu, sem dar por isso, o sentimento mais profundo de si, da sua razão de ser e estar vivo. Perdeu raízes na Terra (outra matriz) e no céu (outra semente). Insistiu no patriarcado, apesar das vozes femininas que se levantaram.
No caminho em que se foram apagando muitas das suas estrelas foi encontrando lampadários de néon e tungsténio que o confundiram e aceitou sem resistência e com alguma preguiça todas as inevitabilidades artificiais propostas ao seu território anímico desertificado.
O colectivo estava assim, finalmente, preparado para os grandes empreendimentos dos anos 2000, que a matriz nazi, só aparentemente adormecida, prepara desde os anos de 1950: a aceleração da desigualdade, preparando a selecção final (1% da população mais rica que os outros 90%, aquela que aceitará fundir-se com as máquinas, desprezando a “fraqueza” duma maioria a eliminar), a corrida a todas as formas de armamento convencionais e não convencionais (químicas, biológicas, psicotrónicas, electromagnéticas, nucleares, agroquímicas, aditivas, genéticas), a criação artificial de problemas para imposição de soluções sociais pretendidas (a estratégia do choques1Cf. conferência de Naomi Klein em 2009 sobre esta estratégia, frequentemente utilizada pelos EUA ao longo do século XX: Ver conferência várias vezes utilizada pelos E.U.A. em países ditos menos desenvolvidos), a criação especulativa de valor monetário sem qualquer correspondência com riqueza real (o sistema bancário e as Bolsas), a fragilização das classes médias, a livre expressão de hierarquias religiosas no exercício da manipulação, do poder, da guerrilha e da falsa espiritualidade e a concomitante perseguição de todas as minorias e formas alternativas da sua procura, a imposição biopolítica de modelos médicos baseados na indústria química de moléculas artificiais que escamoteiam causas profundas das doenças, eliminando sintomas e não apenas protelando a cura mas sobretudo criando efeitos colaterais na necessária manutenção da doença, o segundo maior negócio do mundo.
A toxicidade dos modelos ambientais, alimentares, terapêuticos, bélicos e acima de tudo discursivos (hegemonia dos media, mentira organizada, chantagem emocional, egrégoras do medo e da insegurança, financiamento ideologicamente direcionado da investigação e divulgação científicas e estatísticas) encontrou dois fortes aliados na pretensa “democracia” em que supomos viver e na sujeição tecnológica que fomos aprendendo a ver como um privilégio. Por um lado, participamos em eleições livres e temos a ilusão, agora cada vez menor, da liberdade. Por outro lado, tudo se organiza para que a nossa pegada digital nos inscreva cada vez mais nos centros de controlo que há muito preparam a nossa entrega voluntária e incondicional à hipervigilância.
Nos últimos anos, os colapsonautas têm escrito e falado acerca do colapso iminente deste modelo civilizacional2Ver a título de exemplo, Yves Cocher, Devantl’Effondrement, Essai de Collapsologie, Paris: ÉditionsLesliens qui libèrent, 2019 ou Pablo Servigne, Paris: Une Autrefindu monde estpossible,ÉditionsduSeuil, 2018. : porque o planeta atingiu o seu limite, porque a falsidade e os interesses reais nunca foram tão descaradamente exibidos, porque o caos nunca foi tão gritante a todos os níveis.
Os níveis de consciência da grande maioria são terrivelmente baixos. Assim foram mantidos, é certo, com particular eficácia, nas últimas décadas. Mesmo assim, os lançadores de alerta proliferam, e a quantidade de artigos, livros e conferências publicados, os esforços imensos de corajosas minorias na tessitura de outros modelos e na denúncia daqueles que nos destroem devem agora começar a pesar mais na balança deste imenso desequilíbrio.
Transhumanismo é o nome assumido pela matriz nazi no tempo presente. A silicolonização do Mundo está a ser realizada há muito3ÉricSadin, La Silliconisation du monde. L’irrésistible expansion du libéralisme numérique. Paris: Éditions L’Échapée, 2016. e estão agora a ser dados passos de gigante em direcção à meta final pretendida: as cidades inteligentes, a internet das coisas, dos corpos e das mentes, a fusão do Homem com a máquina na construção do Homem 2, do cyborg, do transhumano, que supostamente vence a morte celular e desprograma doenças, se desliga do género e da sexualidade, esfria a sua receptividade emocional e se sujeita à obediência inescapável, já sem alma, sem liberdade, sem responsabilidade e tendo entregado de bandeja toda a sua energia vital e criativa às forças mais obscuras.
É este projeto que precisa do 5G, da vacinação massiva, da nanotecnologia que não saberemos onde é disseminada (ou sabemos), das pandemias experimentais, da justificação do controlo. É este o projeto que precisa de ElonMusk e de Bill Gates. Que precisa da fragilização imunitária, desaconselhando os suplementos vitamínicos; que espalha alumínio e outros metais pesados na atmosfera (cf. geoengenharia) na água canalizada e nas vacinas; que precisa de patentear sementes (OGM e transgénicos) e de destruir a agricultura tradicional e local; que precisa de envenenar alimentos com perturbadores endócrinos (caso do célebre glifosato); que precisa de extrair lítio para fabricar carros eléctricos que serão robots autónomos que só irão onde o Estado permitir e cujas baterias serão tão poluentes em fim de linha como lixo nuclear; que realiza o fracking em gigantescos crimes ambientais; que utiliza populações de regiões ou países inteiros como cobaias de experimentos médicos e tecnológicos.
FrédéricGroz4Fréderic Gros, Désobéir, Paris, Albin Michel, 2017 propõe-nos pensar até que ponto desobedecer pode ser uma vitória contra a inércia do mundo e a sua profunda injustiça. A educação prepara à resignação política mas desobedecer pode ser uma declaração de humanidade. Antígona escolhe desobedecer em nome duma obediência superior. Em Nuremberga, pela primeira vez, alguns homens foram punidos por ter obedecido.Que mérito existe em obedecer a leis monstruosas? O obediente por excelência é o escravo. Como tão bem explica La Boétie5Étienne de La Boétie, Discours de la servitude volontaire, 1574-1576, a servidão torna-se uma segunda natureza do homem, com a força do hábito e do conformismo. No contexto da objecção de consciência, duas articulações se apresentam difíceis: criticar publicamente e desobedecer em actoa tudo o que o pensamento individual desaprova.
Num mundo tecnoburocrático, cada um concentra-se na sua parcela de actividade e especialização e a monstruosidade do conjunto deixa de ser visível. A origem duma lei ou directiva (a tradição, o governo eleito, o senso comum, as determinações da OMS, os vizinhos, a família, a televisão…) justificam toda e qualquer monstruosidade?Ana Arendt explica que a banalidade do mal é essa capacidade de se tornar a si mesmo um corpo desligado da alma, empenhado em não saber. Preferimos a segurança à justiça e o consentimento sela a obediência, num contexto em quea justiça dos homens tem sido quase sempre a mesma farsa: o interesse do mais forte disfarçado de bem comum.
Ousar saber reclama audácia; querer fazer bem significa pensar nos outros, em todos; a resistência e a desobediência civil podem manifestar uma democracia transcendental e o sentido nobre da política. A desobediência pode ser um dever de integridade espiritual, porque há um EU indenegável. “Se eu não for Eu quem o será por mim?” pergunta David Thoreau6Inspirado em FrédericGros, opus cit., ps. 111, 127, 143, 155, 160 e 173.
Vivemos o tempo estreito, a faixa muito estreita de tempo (talvez um ano …) em que podemos e devemos desobedecer em espírito (expressão de ideias, manifesta tomada de consciência) antes que seja necessário desobedecer em acto. A estratégia do choque, o molde infalível do medo, a manipulação fácil da informação e do seu efeito nocebo (inverso de placebo), as brechas da desorientação política, o trabalho voluntário e já antigo de fragilização da imunidade das pessoas,agora reforçado com a subtracção ao sol, à natureza e ao efeito curativo dos laços afectivos e da alegria, têm trabalhado incansavelmente de mãos dadas com este vírus, também ele, ao que tudo indica, fabricado. O cenário foi meticulosamente montado para que cheguem agora ao palco de muitos países, os arautos da “necessária” revisão constitucional, favorável à perseguição individual, ao controlo absoluto da privacidade, à sujeição totalitária, propostas como “protectoras”. Não aprendemos nada com a História, pelos vistos tão inútil, e esquecemos a frase preferida de qualquer ditador: ” eu é que sei o que é melhor para ti”.
É nesta faixa estreita de tempo em que agora vivemos entre um vago horizonte de desconfinamento e a certeza de novas recidivas do vírus ou das suas mutações, que temos que invadir o palco, afastar as cortinas e deixar à vista de todos o que está nos bastidores e quem segura o fio das marionetas. Objectores de espírito, de alma e de consciência, sejamos também actores físicos da denúncia. É o primeiro e mais importante passo para a dissolução da matriz radicular do nazismo que se estendeu no planeta sob a face progressista do transhumanismo e dos seus múltiplos consortes: o jornalismo enfeudado, os governos e parlamentos obedientes a Bilderberg, as multinacionais da perversidade eco e homicida, os psicopatas que protagonizam a aplicação do programa.
As forças que verdadeiramente governam o mundo (e que não têm rosto) financiam e promovem publicamente a visão inflexivelmente materialista da realidade, da ciência e da medicina (aquela que desliga as massas da memória e da evidência de outra realidade, que não é material), mas recorrem da forma mais invertida e criminosa aos adquiridos das ciências ocultas, dos saberes tradicionais, da ufologia, da parapsicologia e da realidade quântica para o fabrico de armas invisíveis, da sujeição colectiva e do envenenamento dos seres vivos. Huxley e Orwell sabiam o que estava a ser preparado quando escreveram ficção.
Querer, ousar, saber, informar, educar, intervir. Faça você mesmo. Por si e pelos outros, por todos os que estão a chegar e merecem outra vida e outra humanidade. A isto também se chama, vulgarmente, amar.
Maria Leal, 21 de Abril de 2020
- 1Cf. conferência de Naomi Klein em 2009 sobre esta estratégia, frequentemente utilizada pelos EUA ao longo do século XX: Ver conferência
- 2Ver a título de exemplo, Yves Cocher, Devantl’Effondrement, Essai de Collapsologie, Paris: ÉditionsLesliens qui libèrent, 2019 ou Pablo Servigne, Paris: Une Autrefindu monde estpossible,ÉditionsduSeuil, 2018.
- 3ÉricSadin, La Silliconisation du monde. L’irrésistible expansion du libéralisme numérique. Paris: Éditions L’Échapée, 2016.
- 4Fréderic Gros, Désobéir, Paris, Albin Michel, 2017
- 5Étienne de La Boétie, Discours de la servitude volontaire, 1574-1576
- 6Inspirado em FrédericGros, opus cit., ps. 111, 127, 143, 155, 160 e 173
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